“Não vou adoçar a verdade.”

JADE fala sobre Little Mix, sua carreira solo e seu novo single sincero, “IT Girl”

Antes de Jade Thirlwall ser a Jade do Little Mix, ela era a Jade de South Shields, concorrente número 159420 no The X Factor. Foi nesse programa, em 2011, que Thirlwall, então com 18 anos e rosto de menina, uniu-se a outras três adolescentes cheias de esperança para formar o Little Mix, iniciando uma cadeia de eventos que as transformaria no maior, mais vendido e premiado grupo feminino do Reino Unido desde as Spice Girls.

Já se passaram três anos desde que o Little Mix anunciou sua pausa, em 2022 – uma eternidade no mundo da música. Mas, em poucos minutos após encontrar Thirlwall, agora com 32 anos, sou rapidamente lembrado da força com que o pop chiclete e afiado do grupo dominava o país. O refrão de “Shout Out to My Ex” – um dos vários números 1; uma verdadeira obra-prima em sua crítica feroz a um ex-namorado ruim – vem à mente instantaneamente, tão fácil de lembrar quanto o nome do meu primeiro animal de estimação ou o aniversário da minha mãe.

Thirlwall entra no restaurante em modo de megastar, ou seja, incognita. A aba de seu chapéu felpudo com estampa de leopardo cobre seus olhos enquanto ela se senta apressadamente à nossa mesa no andar de cima, sem ser notada pelas pessoas curiosas no andar de baixo. Ela está usando um suéter folgado e calças de moletom xadrez vermelho. Em qualquer outra pessoa, isso poderia parecer um pijama.

Há, claro, algo faltando nesta cena. Ou melhor, três coisas: os rostos amigáveis de suas colegas de banda do Little Mix, que por tanto tempo estiveram lado a lado com Thirlwall. Hoje, é apenas ela. As entrevistas são diferentes “porque não tenho minhas meninas me incentivando”, ela diz, relembrando uma das primeiras entrevistas do grupo. “Perguntaram para a gente qual era o cheiro do amor, e respondemos ‘P**t*!’ Thirlwall é bastante divertida sozinha. O que é algo bom, considerando que agora ela está tentando seguir carreira solo. Como JADE, ela lançou seu hit de estreia, “Angel of My Dreams”, em julho passado, seguido por “Fantasy” e “Midnight Cowboy”. O próximo lançamento é “IT Girl”, uma faixa de dance-pop que ela gosta de descrever – me conta com um sorriso animado – como “a irmãzinha p**t* de ‘Angel of My Dreams’”. Ambas têm batidas graves, sintetizadores intensos e críticas afiadas à indústria que a moldou.

Com lançamento marcado para 10 de janeiro, “IT Girl” é um eletro-pop acelerado e poderoso sobre ser cutucada, pressionada, fotografada e penalizada como uma mulher sob os holofotes. Dito isso, Thirlwall está longe de reclamar. Em vez disso, há uma ameaça sutil em seus vocais: “I’m not your thing/ I’m not your baby doll/ Not your puppet on a string” (“Não sou sua coisa/ Não sou sua bonequinha/ Nem sua marionete”) . Quase dá para ouvir o sorriso irônico quando ela declara, com um tom provocador: “You’ll never own me/ Na-na-na-na-na” (“Você nunca vai me controlar/ Na-na-na-na-na”).

Como todas as suas produções solo até agora, “IT Girl” é vibrante e flexível, desafiando os limites da música pop e quaisquer expectativas que possamos ter tido.

“Ainda há muito que as pessoas não sabem sobre mim, então eu estava ansiosa para surpreendê-las, cutucar a fera um pouco.”

“Eu realmente fiquei ansiosa por irritar pessoas ou enfrentar algum tipo de reação negativa, mas eu preciso escrever sobre minhas experiências – não vou adoçar a verdade. É, sabe, a minha realidade.”

Se a Jade do Little Mix nasceu naquele fatídico dia no The X Factor, esta Jade – a que está diante de mim, atualmente conduzindo sua carreira solo de pop avant-garde – nasceu anos antes, no restaurante italiano de sua cidade natal, South Shields. Lá, ainda pré-adolescente, ela cantava músicas de Britney Spears para aposentados como se estivesse liderando sua própria residência em Las Vegas. “Eu cantava ‘If You Seek Amy’ enquanto pessoas de meia-idade tentavam aproveitar suas lasanhas”, ela diz, rindo. “Acho que sempre soube que queria ser uma estrela pop.”

Thirlwall é uma aluna dedicada do pop, aprendendo aos pés de gigantes: Britney, Madonna, Gaga, Beyoncé. “Com o Little Mix, eram músicas sobre términos de relacionamento e empoderamento feminino, que eu amo, mas agora estou fazendo isso do meu próprio jeito. Agora é algo muito mais pessoal para mim,” ela diz. “É para os gays e as garotas.”

Essa última parte rapidamente se tornou uma piada recorrente entre os fãs. Não é intencional, diz Thirlwall: “Acontece naturalmente. Fui muito influenciada por essa cultura, seja pela cena dos clubes ou pela minha família e amigos ao meu redor em Londres.” Ela tem cuidado para não soar performática. “Tipo ‘yas queen’ e essas coisas”, diz Thirlwall, fazendo uma careta. “É um equilíbrio complicado de navegar, porque acho que, como aliada, você não quer exagerar.”

Ajuda o fato de Thirlwall ter passado boa parte de sua carreira defendendo a comunidade LGBT+: em 2021, ela ganhou o prêmio Allyship da Gay Times. E quando erra, é a primeira a admitir. Quando o Little Mix foi criticado pelo videoclipe de “Confetti”, no qual as integrantes se vestiram de drag, mas não destacaram artistas drag reais, Thirlwall aceitou a crítica. “Estamos em um momento assustador agora, com a cultura do cancelamento – que obviamente algumas pessoas merecem mais que outras,” ela diz. “Mas quando você está apenas tentando existir como um ser humano, vai cometer erros, e às vezes a chave é dizer: ‘Sim, isso foi uma m**** e foi culpa minha. Desculpa.’”

Seus fãs são praticamente a única razão pela qual ela volta ao Twitter, apesar de rotineiramente deletar sua conta.

“É um poço de ódio, mas, ao mesmo tempo, eu realmente amo quando os fãs dão críticas genuínas sobre algo na campanha,” diz ela, citando “IT Girl” como exemplo. Originalmente, a música se chamava “That’s Showbiz, Baby” até que os fãs sugeriram outra coisa. “Você tem que ouvir, né?” ela sorri.

Exceto, é claro, pelas vezes em que as pessoas disparam insultos de trás de uma tela. Thirlwall ainda se surpreende com o fato de os trolls conseguirem atingi-la. “Faço isso há tanto tempo e já recebi muitos comentários negativos ao longo dos anos, o que me deu uma pele grossa,” diz ela. “Mas acho que éramos um pouco protegidas porque tínhamos umas às outras, e agora estou realmente sozinha. As pessoas sempre encontram algo para criticar; se não é a música, é a minha aparência, o fato de eu ter engordado, a campanha ou qualquer outra coisa. É literalmente sempre algo.”

“Ainda é um conceito tão bizarro para mim,” ela acrescenta. “Você não anda pela rua e tem alguém passando por você dizendo: ‘Você está horrível hoje.’”

Essa é uma mulher corajosa o suficiente para se apresentar ao julgamento não apenas uma, mas três vezes no The X Factor antes de conseguir passar. Olhando para trás, Thirlwall reconhece que havia várias coisas sobre o programa que eram “bem ferradas”. Por exemplo, todas as participantes femininas, independentemente da idade, dividiam beliches em um grande dormitório. “Mesmo aos 18 anos, eu sabia que havia pessoas ali que não estavam mentalmente bem, mantendo todo mundo acordado à noite,” ela relembra. “Nem sei se havia segurança do lado de fora da casa. É assustador pensar nisso agora, mas eu era jovem demais para perceber na época.”

Liam Payne vem à mente. A estrela do One Direction fez o teste na mesma temporada que Thirlwall; ambos tinham 14 anos quando subiram ao palco. Ele morreu tragicamente em um acidente relacionado a drogas em outubro. Hoje, no entanto, fui orientado a não mencionar sua morte.

Quando The X Factor exibiu seu episódio final em 2018, Thirlwall comemorou seu encerramento. “Acho que tinha que acabar,” ela diz com seriedade. “Não acho que esse tipo de programa possa existir mais. Estamos em um lugar diferente agora.” De que forma? “Não colocaríamos alguém mentalmente instável na TV para rirmos enquanto eles cantam terrivelmente. O conceito de um ‘ato cômico’ no programa é simplesmente cruel. É tudo muito ‘Império Romano’.” Thirlwall faz uma pausa. “Mas, ao mesmo tempo, não foi o melhor treinamento que eu poderia ter para entrar na indústria da música?”

Os sentimentos de Thirlwall em relação ao The X Factor são muito parecidos com seus sentimentos pela indústria como um todo: agridoce.

“Eu não conheço ninguém que tenha saído daquele programa sem algum tipo de problema de saúde mental.”

Mas, ao mesmo tempo, pessoalmente, ainda me sinto conflitante em criticá-lo, porque mudou minha vida. Eu vinha de uma família trabalhadora muito comum do norte, tinha tentado enviar demos para gravadoras, fiz shows em vários lugares, estava fazendo tudo o que podia para conseguir, e precisava de um programa como aquele para me dar uma chance.

Thirlwall foi uma das sortudas. “Eu diria que cinco por cento das pessoas que participaram saíram não ilesas, mas sobreviveram; os outros 95 por cento sofreram em silêncio,” ela diz. “Como você passa de estar naquele programa para voltar ao seu trabalho das nove às cinco? Como você assina com uma gravadora, acha que conseguiu, e, então, quando sua música não chega ao Top 10, você é simplesmente descartado? É tão brutal, essa máquina da qual fazemos parte. Mesmo naquela época, sabíamos como éramos sortudas todos os dias por ainda estarmos assinadas.”

Para os cínicos, a história de origem do Little Mix pode parecer um pouco sem alma: uma máquina comercial de música juntando peças de um quebra-cabeça financeiramente viável. A própria Thirlwall tinha apreensões, franzindo o nariz quando a jurada Kelly Rowland sugeriu colocá-la em um grupo. “Tive flashes do Pussycat Dolls,” ela diz agora.

“Eu tinha acabado de fazer 18 anos e estava em pânico com a possibilidade de ser hipersexualizada, porque não acho que havia nada remotamente sexy em mim.”

Thirlwall, sabendo que era “introvertida, tímida e com gostos excêntricos”, também temia o conflito que achava inevitável em um grupo feminino. “Pensei em cantoras principais e brigas, porque a imprensa sempre falava sobre rivalidades em girlbands… Eu pensava, ‘Meu Deus, como isso vai funcionar?’”

Felizmente, funcionou. “Os astros se alinharam,” ela diz. “Não sei se você acredita nessas coisas, mas quando nos colocaram juntas no palco pela primeira vez e os jurados perguntaram se conseguiríamos fazer funcionar, eu simplesmente olhei para eles e literalmente imaginei a gente sendo gigantes. Tive aquela sensação estranha no estômago – e todas estavam vestidas tão desajeitadas quanto eu. E tínhamos todas a mesma altura.”

Isso não quer dizer que não houve desafios. A competição foi incentivada entre elas; no começo, a ideia de uma vocalista principal foi repetidamente sugerida. “Nós dissemos não. Todas queríamos ser iguais e fomos muito firmes quanto a isso,” diz Thirlwall. “Acho que essa foi uma das razões pelas quais duramos tanto tempo: ninguém era vista como a principal ou a melhor.”

O que Thirlwall encontrou no Little Mix não foi o drama de divas que temia, mas uma irmandade que se mostrou inestimável quando a dimensão total do que elas haviam conquistado se revelou. Em 2018, o Little Mix lançou “Strip”, inspirada por uma matéria sensacionalista que atacava a aparência de Perrie Edwards e Thirlwall. A música foi acompanhada por um ensaio fotográfico em que elas apareceram nuas, com vários insultos que receberam estampados em tinta preta em seus corpos. Como esperado, Piers Morgan rapidamente comentou: “O que há de empoderador nisso? É usar sexo para vender discos.” Meses depois, elas incluíram o trecho de Good Morning Britain em sua turnê.

“Mexeu com as pessoas certas,” diz Thirlwall. “No momento em que você faz um movimento estratégico como aquele, está dizendo ao mundo que já viu de tudo e não se importa mais.” Ela nunca foi do tipo que se encolhe. Quando Noel Gallagher criticou o Little Mix após elas ganharem o prêmio Brit de Melhor Grupo Britânico em 2021, alegando falsamente que elas não escreviam suas próprias músicas, Thirlwall apareceu no programa Never Mind the Buzzcocks com uma resposta brilhante: “É uma pena, porque definitivamente somos o grupo feminino de maior sucesso do país, e ele nem é o artista mais bem-sucedido da própria família.”

“Não me importo em responder ou rebater as pessoas.”

“Especialmente nesse caso – é como, ‘Cala a boca!’ Tão cansativo!” Para ser justa, ela acrescenta: “Parte de mim tem orgulho disso. É um sinal de que você está indo bem quando os Gallagher decidem arrumar briga.

Já se passaram 14 anos desde que o Little Mix se formou. “Parecia que era a gente contra o mundo,” diz Thirlwall. “Até mesmo no sentido da feminilidade, todas tínhamos nossos ciclos menstruais ao mesmo tempo. Estávamos juntas 24 horas por dia, 7 dias por semana, então nossos corpos estavam literalmente alinhados.” Elas chegavam ao estúdio todas vestindo a mesma cor ou roupa.

“Odiávamos nos separar para fazer entrevistas ou ir a eventos sozinhas. Era um pouco de codependência,” ela admite. “Acho que é por isso que, quando entramos em hiato, foi quase como um término de relacionamento.”

Quando cada uma começou a escrever sua música solo, havia um senso de competição entre irmãs? “Isso é meio que imposto pelo público ou pelos fãs, então não queríamos fazer parte disso.” Thirlwall tem poucos arrependimentos sobre aquela época de sua vida. “Talvez eu tivesse tirado mais tempo para mim,” reflete.

“Quando as coisas ficavam um pouco difíceis para mim mentalmente, ter a força de dizer ‘Não, eu preciso de uma pausa.'” Mas ninguém quer ser a pessoa a apertar o botão de pausa. “E uma máquina de música em linha de montagem, você produz música, depois vai em turnê, e então tem duas semanas de folga no Natal antes de voltar para o jogo,” diz ela, exausta só de contar. “Era como se estivéssemos nessa roda, e ela ficava cada vez mais rápida até que as rodas simplesmente caíram.” Outro grande arrependimento de Thirlwall é não ter falado sobre sua herança árabe mais cedo. (Ela é um quarto iemenita e um quarto egípcia.) Havia uma grande comunidade iemenita em South Shields, e Thirlwall cresceu ao lado de uma mesquita. Mas as coisas mudaram em 2001. “Quando o 11 de setembro aconteceu, percebi claramente a mudança na narrativa,” ela relembra. “Vi pessoas sendo cruéis com meu avô ou gritando insultos do lado de fora da mesquita. Desde cedo, percebi que as pessoas não gostam dessa parte da minha herança.” Esses medos se confirmaram quando ela entrou no ensino médio, onde foi alvo de bullying por ter origem árabe. “Quando entrei na banda e me mudei para Londres, de repente todo mundo queria saber de onde eu era,” ela conta. “Ninguém nunca tinha realmente me perguntado isso antes, porque as pessoas na minha cidade já sabiam, então a ideia de ser racialmente ambígua ou ‘passar por branca’ era nova para mim. Pensei, talvez seja melhor assim, entrando na indústria… Tudo o que eu via eram matérias negativas sobre pessoas muçulmanas, pessoas árabes. Eu tinha medo de promover isso.”

Ficar em silêncio talvez seja o maior arrependimento de sua vida.

“Isso me entristece agora, porque tenho muito orgulho da minha herança hoje, mas acho que preciso perdoar meu eu mais jovem por isso,” ela diz. “Não acho que seja nunca tarde demais para abraçar quem você é.”

Matéria: https://www.independent.co.uk/arts-entertainment/music/features/jade-little-mix-it-girl-solo-b2673312.html

Postado por: Brenda Barroso